A guerra na Ucrânia — “Guerra na Europa Oriental: o Ocidente sacrifica o seu cordeiro”, por Pablo Jofre Leal

Seleção e tradução de Francisco Tavares

6 m de leitura

Guerra na Europa Oriental: o Ocidente sacrifica o seu cordeiro

 

 Por Pablo Jofre Leal

Publicado por em 21 de Agosto de 2023 (ver aqui)

 

                                           Fonte: Hispan TV

 

O regime político-militar de Kiev mostrou que está disposto a tudo, inclusive o sacrifício da sua população para demonstrar aos seus curadores ocidentais que pode cumprir os planos traçados por Washington e Bruxelas. Isso, a fim de atrair a maior quantidade de financiamento, mais militar do que para benefício de sua população, que aumente os cofres e os depósitos bancários de oligarcas, generais e membros do governo de Volodimir Zelensky.

Para poder ter uma narrativa que convença os seus cada dia mais incrédulos mecenas, o regime de Kiev mostra urbi et orbi supostos “êxitos em combate” e recuperação de territórios que de modo algum podem comprovar apesar do apoio dos meios de desinformação e manipulação do Ocidente, que bombardeiam com notícias que não têm relação com a realidade, aproveitando assim a censura, restrições e invisibilização dos meios de comunicação russos nas mãos dos que se costumam denominar “defensores da liberdade de expressão e da democracia”.

Bem sabe Zelensky e os seus que incrementar o já monumental apoio financeiro e militar ocidental depende disto que chamam “êxitos militares” que por sua vez tem correlação com a ação dos políticos estadunidenses e europeus de convencerem as suas sociedades – ou melhor, manipulá-las – a respeito de que as colossais cifras entregues a um governo que é considerado um dos mais corruptos do mundo [1] é um dinheiro bem gasto com vista à proteção dos ucranianos, a defesa da liberdade e a luta contra poderes considerados inimigos do Ocidente. Como é a visão que têm da Federação Russa.

As supostas conquistas territoriais exibidas por Kiev como triunfos gloriosos, mostras do sucesso da contraofensiva foram qualificadas de “limitadas” pelo Instituto para o Estudo da Guerra (Institut for the Study of War), um think tank que afirma que estes avanços são essencialmente pequenas aldeias sem importância estratégica significativa [2]. A Rússia conseguiu estabelecer uma linha de defesa em torno do Donbass que tornou impossível ao regime de Kiev superar, nem mesmo as primeiras estruturas defensivas. Para Zelensky e os seus, um fracasso total, de que ele tentou desviar a atenção atacando alvos civis na Rússia.

As vozes críticas por esse apoio desmesurado e incontrolável em armas, que costumam terminar uma parte delas no mercado negro das armas em diversos continentes e em dinheiro que enriquecem os hierarcas ucranianos, tem vindo a crescer. O senador republicano pelo Alabama Tommy Tuberville observou no programa de televisão The Ingraham Angle da Fox que “em Washington não estamos a entender nada. Afinal de contas, é uma equipa do ensino médio – referindo-se à Ucrânia – a jogar contra uma equipa universitária – referindo-se à Rússia- eles não podem ganhar…o que estamos a fazer é tentar desviar o olhar do verdadeiro problema em relação ao facto de que a administração Biden e os democratas são um desastre total[3]. No mesmo programa em que Tuberville participou, foi divulgado pela apresentadora que uma pesquisa realizada pela SSRS – empresa de estudos de opinião – e pela CNN revelou que 55% dos americanos afirmam que o apoio à Ucrânia não deve continuar, não mais fundos adicionais. Isto contra 45% que vê positivo continuar apoiando Kiev. Número que contrasta com 65% de apoio tido no início da operação de desnazificação e desmilitarização por parte da Rússia em fevereiro de 2022.

Opiniões como a do presidente da Câmara de Representantes estadunidense, o republicano Kevin McCarthy, que declarou publicamente que Kiev não deveria receber um “cheque em branco”, geram temor no regime de Zelensky e impulsionam-no a ordenar que as tropas de seu exército, os mercenários contratados por milhares e rogar que o apoio da NATO em matéria de manejo das tecnologias militares mais avançadas, não se detenham. A ordem para a tropa de cordeiros em que está convertido o exército ucraniano, é tratar de manter a todo custo cada espaço ou aldeia que podem mostrar como conquistada às forças populares do Donbass e ao exército russo. Isso, não importando as perdas que, de acordo com números entregues pelo Ministério da Defesa russo, significam 300 baixas diárias para Kiev. Uma sangria mortal com que Zelensky não parece importar-se na sua ideia de que retirar tropas de uma linha de combate pode causar um “efeito dominó” e com isso cessar o fornecimento de armas e dinheiro que é a única coisa que o sustenta de forma cambaleante em pé.

A corrupção chegou a níveis que mostram a absoluta putrefação de um regime que inclusive deve tirar de circulação os encarregados dos centros de recrutamento, criados precisamente por Zelensky em junho passado, que recebiam subornos para não enviar a quem pagava altas somas de dinheiro para não ir combater [4], Conduta que deita por terra aquilo que é apregoado pelos meios de comunicação, de que são milhares e milhares os ucranianos dispostos a ir para a morte certa. Os meios de comunicação ucranianos e elementos do governo apontaram que tais casos de corrupção ocorreram em Odessa, Leópolis e Kiev principalmente e as investigações internas mostraram que os detidos e afastados dos seus cargos se enriqueceram ao deixar fora do serviço militar obrigatório aqueles que inclusive pagavam em criptomoedas ou eram deixados na fronteira com a Polónia para não fazer parte da guerra. Cento e doze elementos vinculados à área de alistar tropas serão processados – pelo menos assim anunciou o presidente ucraniano – o que faz temer que as ramificações deste negócio tão particular cheguem a altas esferas do exército e do governo ucraniano. É a sorte que costumam correr aqueles regimes que servem a outros senhores e não a sua sociedade.

A corrupção é um cancro que se ramificou por toda a Ucrânia. Já em janeiro passado Zelensky cessou 15 altos cargos por denúncias de corrupção, em diferentes níveis: cinco governadores: Oleksiy Kuleba de Kiev. Oleksandra Staruja de Zaporiyia. Dimitro Zhivitski da província de Sumy, Yaroslav Yanushevich de Kherson e Valentina Reznichenko de Dnipropetrovsk. Os cargos de vice-ministros foram: o vice-ministro da Política Social, Vitali Muzichenka, e os vice-ministros do desenvolvimento Ivan Lukerya e Viachelsav Negoda. Até mesmo o vice-conselheiro de Zelensky foi demitido do cargo. Anúncios dados pelo próprio presidente ucraniano ao assinalar que seriam feitas mudanças na cúpula do país após vários escândalos no seio do Ministério da Defesa. O caso mais soado foi o de Vasil Lozinski, vice-ministro de Infraestrutura e Desenvolvimento Comunitário, acusado de receber mais de 400 mil dólares destinados à compra de equipamentos e maquinaria militar. Ao que se somou a confissão a respeito da compra a preços inflacionados das rações militares destinadas aos soldados ucranianos destinados à frente de batalha e que já tinham dado a conhecer a falta de vestuário e alimentos. Factos que foram um soma e segue na corrupção que aflige a Ucrânia, o seu regime e os seus próprios defensores, que aparecerão a cobrar a conta das armas e o apoio em geral na hora do final da guerra.

A Ucrânia está em dívida com os seus apoiantes, que cobrarão a conta sim ou sim, durante décadas. A sua reconstrução, que se estima a esta altura terá um custo superior a 500 mil milhões de dólares, significará transnacionais europeias e estadunidenses a exigirem o pagamento com as próprias riquezas de um país em ruínas. Talvez os 250 mil milhões que já foram gastos na guerra tivessem sido um bom incentivo para gerar as bases de um país onde a corrupção não o colocasse, antes da guerra, no lugar 122 entre 180 países mais corruptos do mundo. E, concretizar um desenvolvimento pacífico e de boa vizinhança. O [golpe de] Euromaidan colocou este país da Europa oriental no lado belicista de Washington e da NATO que, depois de uma década, o coloca numa encruzilhada que o mergulha, a cada dia que passa, no marasmo de se tornar um estado hipotecado. A Ucrânia é um cordeiro que caminha para o matadouro, conduzido pelos seus pastores que não têm interesse algum na Ucrânia, mas que só lhes sirva de carne de canhão e testa-de-ferro nos seus afãs russofóbicos.

_______

Notas

[1] Um mês antes do início das hostilidades entre a Rússia e a Ucrânia, como figura de proa de Washington e da NATO, os media europeus consideravam o país da Europa oriental da seguinte forma: “a Ucrânia é um país soberano. Mas apenas formalmente. A realidade é que depende do Ocidente do lado económico, militar e político. A corrupção come tudo… a Ucrânia não é um Estado falido, mas caminha pelo arame como se fosse um funambulista. Se cai para um lado ou para outro – é o risco de qualquer equilibrista – dependerá de como se solucione a atual crise. Mas hoje, como é óbvio, seu futuro é uma incógnita, embora não o seja a sua situação crítica”. https://www.elconfidencial.com/economia/2022-01-26/ucrania-putin-pib-per-capita-fronteras-productividad-china-zelensky-cesce-elites-prorrusas-eeuu-otan-ue-fmi_3364349/

[2] https://www.understandingwar.org

[3] https://sputniknews.lat/20230809/por-que-kiev-no-puede-ganar-son-un-equipo-de-secundaria-contra-uno-universitario-1142401777.html

[4] https://estrategia.la/2023/08/12/zelenski-despidio-a-todos-los-jefes-del-reclutamiento-por-corrupcion/

 

____________

O autor: Pablo Jofre Leal é um jornalista e escritor chileno. Analista internacional, Mestre em Relações Internacionais pela Universidade Complutense de Madrid. Especialista principalmente na América Latina, no Médio Oriente e no Magrebe. É colaborador de vários canais de notícias internacionais: Hispantv, Rusia Today, Telesur, http://www.islamoriente.com, Annurtv de Argentina, Resumen Latinoamericano, La Haine, Rebelion, Radio y Diario Electrónico de la Universidad de Chile, El Ciudadano http://www.elciudadno.cl. Criador da página web http://www.politicaycultura.cl. Autor dos livros “La Dignidad Vive en el Sahara” sobre a luta do povo saharaui e do livro “Palestina. crónica de la ocupación sionista” sobre a história e a luta do povo palestiniano contra a ocupação e colonização do sionismo.

 

1 Comment

  1. A CIVILIZAÇÃO QUE PRETENDIA PILHAR/SAQUEAR TODO O PLANETA.
    [ocidentais mainstream]
    .
    .
    Numa primeira fase  (começaram à 500 anos):
    – pilhagem/saque descarados: América do Norte, América do Sul, Austrália, África.
    .
    Numa segunda fase:
    [as mais variadas pilhagens permitiram construir um  ‘punho’ militar superior a 1 trilião de USD]
    —> «ou vendem as vossas riquezas naturais às nossas multinacionais…
    ou levam com uma guerra ou com uma revolução colorida».
    —> «ou aceitam o nosso dinheiro falso em troca das vossas riquezas naturais…
    ou levam com uma guerra ou com uma revolução colorida».
    Ex: Iraque, Síria, Líbia,…
    [sim: a quadrilha ‘superior a um trilião de USD’ formou/financiou inúmeros ‘”grupos rebeldes'”]
    .
    .
    .
    .
    .
    UMA OPORTUNIDADE DE PILHAGEM QUE CORREU MAL AOS UCRANIANOS
    .
    As regiões (russófonas) do leste da Ucrânia não foram dadas, pelos sovietes, à Ucrânia: foram dadas pelos sovietes, isso sim, foi à República Socialista Soviética da Ucrânia.
    .
    Os ucranianos em conluio com os ocidentais mainstream (e vice-versa) viram nessas regiões russófonas uma OPORTUNIDADE DE PILHAGEM.
    .
    Consequência: os ocidentais mainstream não se limitaram a financiar a revolução colorida de 2014; pois sim: o ocidente mainstream pagou aos ucranianos para que estes perseguissem, bombardeassem, massacrassem russófonos das regiões  do leste da Ucrânia.
    Sim:
    -> existiam óptimas perspectivas de pilhagem!!!
    [nove, em cada dez, dos mais variados analistas ocidentais garantiam: armas da NATO na Ucrânia… juntamente com sanções económicas à Russia, e…
    a Russia seria conduzida ao caos: tal seria uma oportunidade de ouro: iria proporcionar um saque de riquezas da Russia muito muito muito superior ao saque de riquezas que ocorreu no ‘caos-Ieltsin’ na década de 1990]
    Nota: pois sim sim: era expectável que os russos fossem socorrer os russófonos das regiões russófonas.
    .
    —>>> Pouco depois da guerra ter começado… os ucranianos (Petro Poroshenko) CONFIANTES naquilo que nove em cada dez diziam… correram a colocar-se em ‘bicos de pés’, e falaram à boca podre:
    – «os acordos de Minsk não eram para ser cumpridos… esses acordos de paz foram um golpe de mestre Sun Tsu para enganar os parvos dos russos».
    —>>> Merkel e Holland também correram a falarem à ‘boca podre’ : autoafirmaram-se mestres Sun Tsu.
    .
    .
    Sim, há que dizer aos mestres Sun Tsu ucranianos:
    – «VOCÊS NÃO MERECEM AS REGIÕES RUSSÓFONAS QUE FORAM DADAS À REPÚBLICA SOCIALISTA SOVIÉTICA DA UCRÂNIA!».

Leave a Reply